Estimados Medianos,

       A partir de anotações do Cap Newton e do Cap Osvino, organizei um texto sobre a Recuperação dos CCL M3A1 do 2º R Rec Mec, realizada na nossa 2ª Cia Me Mnt.

Com certeza é um texto a ser complementado por lembranças que os amigos tenham dessa importante atividade que realizávamos há mais de cinco décadas.


Por favor, leiam e sugiram complementos.

Fraternos abraços.

Gen Brochado


ANOTAÇÕES SOBRE
RECUPERAÇÃO DE CCL M3A1 DO 2º R REC MEC
NA 2ª CIA ME MNT

Organização do Texto:
Gen Div Rubens Silveira Brochado
Fontes de Consulta:
Anotações do Cap Newton Magalhães Ferreira
Anotações do Cap Osvino Jacob Gonçalves



       I. ORIGEM

               Em 1967, passadas mais de duas décadas de uso dos CCL M3A1 (Stuart) pelos Esquadrões e Regimentos de Reconhecimento Mecanizado (Esqd Rec Mec e R Rec Mec), a 3ª Região Militar (3a RM) elaborou, sob a gerência do então Parque Regional de Motomecanização/3 (PqRMM/3, hoje PqRMnt/3), um Plano de Recuperação dos aludidos carros de combate, da área de sua jurisdição.

       À 2ª Cia Me Mnt coube a recuperação dos CCL do então 2º Regimento de Reconhecimento Mecanizado (2º R Rec Mec) e aos do 6º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado (6º Esqd Rec Mec). Esta última Unidade, vivia fase de extinção e transferiria seus carros de combate para o 2º R Rec Mec.

       No segundo semestre de 1967, funcionou no PqRMM/3 um estágio para Sargentos, destinado ao aprendizado específico de recuperação dos CCL M3 A1. O estágio funcionou nos meses de julho, agosto e setembro de 1967. A 2ª Cia Me Mnt indicou como estagiários os Sargentos Osvino Jacob Gonçalves e Celso Medeiros Ferreira.

       Paralelamente, sob a supervisão da Serviço de Obras Regional da 3 ªRM (SOR/3) e sob a gerência interna executiva do Subten Vilmar Sebben Padilha, a Cia promoveu a edificação de um pavilhão-oficina especificamente equipado e destinado à recuperação de CCL.

       II. A RECUPERAÇÃO DOS CCL M3A1

       Os trabalhos de recuperação propriamente ditos só foram iniciados na Cia no ano de 1968. Diferentemente da recuperação sumária orientada pelo PqRMM/3, o Comando da Cia, em acordo com o Comando do Regimento, decidiu pela recuperação total dos CCL.

       Essa decisão demandou, logicamente, mais tempo para recuperação de cada CCL. No decorrer do ano de 1968, a 3ª RM oficiou a Cia classificando de muito lenta a recuperação por ela praticada, comparativamente aos trabalhos das demais Cias Mnt envolvidas em trabalhos assemelhados.

       Coube ao então Comandante do 2º R Rec Mec, Cel Darcy Boano Mussoi, responder à 3ª RM, argumentando que a Cia e o Regimento trabalhavam em comum acordo e não estavam participando de uma competição de recuperação de CCL. Estavam, isto sim, realizando trabalho de profundidade na missão que lhes fora atribuída.

       No contexto operacional da 2ª Cia Me Mnt, a missão de recuperação dos CCL cabia ao Pelotão de Evacuação e Recuperação (Pel Ev Rep). Como um todo, o Pelotão, por meio de suas seções especializadas, complementava os trabalhos da Seção de Recuperação de CCL, encarregada da recuperação propriamente dita e dos testes de bancada e de campo dos blindados em questão.

       Parte do suprimento necessário à recuperação dos CCL vinha do PqRMM/3 – motores retificados, patins das lagartas, baterias. Os demais materiais eram supridos pela própria Cia ou por tê-los em estoque ou por aquisição comércio ou ainda por fabricação nas oficinas da própria Unidade. Esse foi o caso, por exemplo, das juntas de vedação, cujas matrizes foram usinadas na Seção de Torno do Pel Ev Rep. Executadas pelo 1º Sgt Loir João Teixeira Pereira e pelo Cb Valtor José Rodrigues da Silveira, essas juntas de vedação tiveram plena aceitação e passaram a ser suprimento distribuído pela Cia às demais unidades de manutenção que lidavam com manutenção/recuperação de CCL. A Cia mandou fabricar caixas especiais com sua logomarca para acondicionar os conjuntos de juntas por ela fabricadas, a serem distribuídas às unidades encarregadas da recuperação dos CCL M3A1.

       Também interessante é mencionar que a Cia recebeu da Viação Aérea Rio-Grandense (VARIG) algumas caixas de parafusos e arruelas especiais, compatíveis com o uso nos CCL. Esses itens eram originalmente usados nos aviões Douglas DC-3, que haviam sido desativados de uso na empresa.

       A efetiva recuperação de CCL M3A1 do então 2º R Rec Mec levada a efeito nas Oficinas da 2ª Cia Me Mnt estendeu-se entre os anos de 1968 e 1973. Neste último ano a 2ª Cia Me Mnt já havia sido oficialmente extinta e integrada ao recém criado 8º Batalhão Logístico (8º B Log) como sua Companhis de Manutenção (Cia Mnt). Contudo, o Batalhão vivia delicado processo de formação e adequação das instalações no Partenon. A Cia Mnt continuou na Serraria, nas instalações originais da 2ª Cia Me Mnt.

       Quanto aos trabalhos específicos da Cia, nada mudara. A perda da autonomia administrativa redundara em redução do número de oficiais e do efetivo de pessoal administrativo. 0s trabalhos de recuperação de blindados continuaram com a mesma intensidade dos anos anteriores, até a entrega, no segundo semestre de 1973, do último CCL recuperado.

       A partir dessa última entrega, por questão doutrinária referente aos escalões de manutenção, não caberia mais ao 8º B Log a recuperação de CCL.

       III. NATUREZA DOS TRABALHOS

       Os trabalhos realizados, consistiam no total desmonte dos blindados e na recuperação dos seus componentes. Feito o desmonte, do CCL restava apenas a carcaça blindada. Seus componentes então, em separado, eram inspecionados e manutenidos/recuperados.

       Já desprovidos de suas blindagens, motores eram sacados e enviados a Santa Maria para retífica no PqRMM/3. Eram motores radiais, Continental, de 8 cilindros, movidos a gasolina azul. Originalmente eram motores de combustão destinados à aviação.

       As caixas de câmbio, uma vez sacadas da blindagem eram inspecionadas e recuperadas na própria Cia. No tocante às blindagens do motor e do diferencial, eram substituídos os parafusos especiais de fixação das respectivas tampas.

       A torre, sacada por talha específica, era posicionada sobre cavalete para que fosse revisada e manutenida em seus componentes elétricos e hidráulicos, bem como em seu armamento. O armamento era recuperado pelo pessoal do Pelotão de Reparação de Armamento (Pel Rep Armt).

       Na carreta de apoio, as lagartas eram desmontadas e os patins eram substituídos por novos, recebidos do PqRMM/3. As cremalheiras das rodas tensoras e os roletes de deslizamento das lagartas eram recuperados e/ou substituídos.

       Pelo interior da carcaça, iniciava-se a raspagem plena da pintura original para adequada repintura, enquanto os componentes desmontados eram revisados e recuperados ou na própria Oficina da CCL ou nas seções do Pel Ev Rep ou ainda nas do Pel Rep Armt. Interna e externamente à carcaça, as várias camadas de tinta dos carros eram raspadas com o uso de espátulas, solventes e soda cáustica. Para remover a eventuais resquícios de solventes e de soda das mãos era usado vinagre e para tirar o cheiro do vinagre usava-se limão.

       As seções de pintura, solda, eletricidade, instrumentos óticos, entre outras, participavam fortemente da revisão/recuperação de componentes e do tratamento da carcaça, que uma vez dada como pronta permitia o reposicionamento dos componentes revisados/recuperados.

       O motor, oriundo do PqRMM/3 era inicialmente colocado numa bancada apropriada e tinha seu funcionamento testado – uma espécie de “amaciamento”, preliminar à sua colocação na sua câmara no CCL.

       A lagarta, com seus patins novos, era montada na carreta de apoio tensionada para regulagem. Cremalheira e os roletes recuperados a sustentavam.

       Seguia-se a recolocação do diferencial revisado/recuperado e os testes dos mecanismos de comando do carro, tanto do motorista quanto do auxiliar – manches, acelerador, embreagem.

       A torre revisada/recuperada era içada de sua bancada de apoio, reposicionada no carro e religada às suas conexões.

       Aprovado nos testes de bancada, o motor era reposicionado em sua câmara e tinha conectadas suas as ligações.

       Eram então iniciados os testes de funcionamento, inicialmente no pátio da Cia. Tudo considerado em condições, colocavam-se as blindagens do diferencial e do motor.

       A próxima etapa era a prova técnica (prova de estrada). Equipe da Seção de Recuperação saía com o CCL pelas estradas, normalmente até Belém Novo, observando o desempenho dos seus componentes. Se necessário, ajustavam-se as lagartas no próprio itinerário, pois os patins tinham que se acomodarem uns aos outros.

       Em uma dessas provas de estrada, em Belém Novo, em um CCL conduzido pelo Sgt Newton, um patim se soltou ao fazer uma manobra na praça. A lagarta saltou fora. O carro, desgovernado, tendeu para um lado. Puxando os manches, o motorista conseguiu frear e evitou que o carro invadisse a praça. Por sorte, a lagarta havia soltado em momento de pouca velocidade do carro. O carro estancou, quase subindo numa calçada.

       Uma vez aprovada a recuperação nos testes de estrada, era realizada a pintura externa. Então, a conclusão da recuperação era informada ao PqRMM/3. Equipe do Parque vinha de Santa Maria, inspecionava a recuperação realizada e liberava o carro para entrega ao Regimento.

       Em média, dependendo do fluxo de materiais oriundos do Parque, eram recuperados dois carros por ano.

       IV. EQUIPES

       Ao longo de seis anos de cumprimento da missão delegada à Cia pelo então PqRMM/3 variaram as equipes participantes dos trabalhos de recuperação.

       Segue abaixo nominata de alguns militares que, nesse período, participaram da recuperação dos CCL M3 A1, a cargo da 2ª Cia Me Mnt:

       Militares Oriundos do 12º RC Mec:

       - 3º Sgt Newton Magalhães Ferreira

       - Cb Ivan Pinheiro

        Oriundos da 2ª Cia Média Mnt:

       - 1º Sgt Victor Muniz

       - 1º Sgt Fernando Godoy

       - 2º Sgt Osvino Jacob Gonçalves

       - 3º Sgt Celso Medeiros Ferreira

       - 3º Sgt Arnaldo Bohn

       - Cb Alberto Fernandes Figueiró

       - Cb Jorge Edison Martins Marinho

       - Cb Jamir Claudio Abreu