Estimados Medianos,

2025 segue firme sua inexorável cadência e hoje deixa para trás o mês de fevereiro.

É tempo de pensarmos nosso próximo encontro. Como de costume, nosso primeiro encontro do ano deve ser marcado pela simplicidade e pela informalidade. Oportunamente, os alertaremos sobre data, local e hora do encontro, ora em fase de planejamento.

Aproveitando o ensejo deste alerta, abaixo está postado interessante relato do nosso saudoso Subten Salazar, versando sobre sua atuação na Operação Poncho Verde.

É relato que, necessariamente, constará do nosso site na Internet.

Fraternos abraços.

Gen Brochado


OPERAÇÃO PONCHO VERDE, OUTUBRO DE 1972
ATIVIDADES DA VIATURA-SOCORRO WARD LA FRANCE EB22-415


       Neste breve relato, descrevo alguns trabalhos – manobras de força–, executados pela Viatura-Socorro Ward La France, 14 ton, 6x6, EB22-415, na Operação Poncho Verde, realizada pela 6ª DE, em outubro de 1972, no Campo de Instrução Barão de São Borja (Rosário/RS).

Subten MB José Leocádio Garcia Salazar
22 de maio de 2022


1. GUARNIÇÃO DA VIATURA-SOCORRO

        2º Sgt Salazar, Cabo Pedro e Cabo Abílio.

2. DESTAQUES NAS MISSÕES CUMPRIDAS

       Pelas complexidades e riscos, destaco 6 momentos importantes, no cumprimento das missões atribuídas à Viatura-Socorro Ward La France (Socorrão), durante a Operação Poncho Verde. Nessa Operação, foi constituído um B Log operacional, constituído da 6ª Cia Int e da 2ª Cia Me Mnt – na realidade o embrião do 8º Batalhão logístico, que seria ativado no início de 1973.

Travessia do Rio Santa Maria

       Em um dos atendimentos efetuamos a travessia do Rio Santa Maria, sobre ponte de madeira, escorada nas laterais por trilhos de trem. Lembro que ao olharem a estrutura da ponte, os Cabos Pedro e Abílio, receosos, optaram por atravessá-la a pé. Alcançaram a outra margem do rio e lá ficaram me esperando, olhos fixos no cuidadoso deslocamento da viatura. Durante a travessia a ponte balançou bastante, mas com vagar e cuidado conduzi com êxito a viatura à margem oposta.

Atoleiros na BR-392

       Naquela época, a BR-392, entre Canguçu e o entroncamento com a BR-290, não era asfaltada e estava em processo de terraplenagem visando ao futuro asfaltamento. Chuvas e o solo mole geraram lodaçais extensos em alguns trechos mais baixos do percurso. No primeiro desses atoleiros, as viaturas mais leves da 6ª Cia Int conseguiram vencer esses obstáculos. Na sequência, as primeiras viaturas mais pesadas atolaram e barraram deslocamento das demais.

       Acionado o Socorrão, seu primeiro trabalho foi retirar as viaturas que bloqueavam o movimento, para que pudesse ultrapassar o atoleiro e então rebocar as viaturas do comboio da 6ª Cia Int. Uma a uma, as viaturas pesadas, carregadas de gêneros e de combustível, foram tracionadas por guincho e liberadas. Após a 6ª Cia Int, foi a vez das viaturas da 2ª Cia Me Mnt serem alvos do mesmo trabalho. Viaturas-oficina, viaturas administrativas pesadas e mesmo algumas viaturas leves foram guinchadas para
ultrapassagem do atoleiro.

        Na sequência do percurso, mais um atoleiro menos extenso se formou e a operação foi repetida para as viaturas pesadas. A consequência desses transtornos foi expressivo atraso no deslocamento ao Campo de Instrução Barão de São Borja (Saicã), onde o comboio da 2ª Cia Me Mnt chegou somente à noite.

Viaturas do 6º BE Cmb Atoladas em Arrozal

       A pouca distância umas outras, 6 viaturas-caçamba do 6º BE Cmb atolaram em um arrozal, onde a colheita havia sido recentemente realizada. O solo estava fofo e úmido em função da colheita e das chuvas da noite anterior.

       As viaturas-caçamba estavam vazias. O desafio foi como adentrar o arrozal com a Viatura-Socorro de 14 toneladas. As 3 primeiras viaturas-caçamba fora guinchadas a partir de um ponto do arrozal em que havia segurança para o guinchamento, sem o risco de atolamento da Viatura-Socorro. As 3 restantes exigiram um avanço no terreno e, consequentemente, um risco maior de atolamento da Viatura-Socorro, cujas rodas ficaram parcialmente imersas na água e afundadas na lama.

       Removidas as viaturas do 6º BE Cmb, me apercebi que tínhamos avançado bastante e estávamos no meio da lavoura de arroz e haveria dificuldade em dela sair. Pus a equipe a pesquisar cuidadosamente os lugares mais secos e realizamos uma grande volta até conseguir voltar à estrada. Na estrada, parei, desci, ajoelhei-me e agradeci a Deus Pai por termos saído daquela situação com sucesso.

Remoção de Viaturas Acidentadas do 18º B Inf Mtz

        Num total de 8, viaturas Ford 2 ½ ton 4x4, novas, pertencentes ao 18ºBIMtz, em deslocamento noturno, capotaram quando de travessia de ponte estreita. Transportavam militares, entre os quais muitos se feriram. A chuva, a escuridão, a falta de conhecimento do trajeto e a falta de sinalização adequada na ponte haviam causado a sequência de capotagens.

        Em função da quantidade de viaturas acidentadas e da natureza dos trabalhos a realizar, foram acionadas as duas viaturas-socorro da Companhia: o Socorrão (14 ton) com minha equipe; e o Socorrinho (Ford 1 ½ ton) com a equipe do Sgt Aguiar.

        A missão consistiu em desvirar e recolocar na estrada as viaturas acidentadas. O Socorrão desvirava as viaturas e as recolocava na estrada. A partir daí, o Socorrinho as rebocava até a estação do trem que as conduziria ao Pq R Mnt/3, em Santa Maria.

Apoio ao 6ºBE Cmb na Montagem de Ponte Metálica sobre o Rio Santa Maria

        Sem dúvida, a missão mais complicada e cansativa que cumprimos foi o apoio prestado ao 6º BE Cmb para montagem de ponte metálica sobre o rio Santa Maria. A ponte destinava-se à transposição do rio Santa Maria por tropas e viaturas.

        Normalmente, a viatura-guincho do 6º B E Cmb faria a retirada dos pontões e vigotas das viaturas de transporte da Unidade. Contudo, o guincho dessa viatura havia quebrado e, por essa razão o Socorrão> foi acionado.

        Por volta de 15h00 chegamos à beira do rio para realizar o trabalho. Fomos então informados de que a ponte deveria estar montada até às 06h00 da manhã seguinte. O Subcomandante do 6º B E Cmb nos orientou sobre o trabalho a executar.

        Aproximamos o Socorrão da margem do rio e iniciamos a descarga dos pontões e vigotas. A fila de caminhões que as transportavam era muito grande e tememos não cumprir a missão em tempo útil para a montagem da ponte.

        As viaturas de transporte especializado do 6º B E Cmb estacionavam perto do guincho do Socorrão. Levantávamos então os pontões da viaturas de transporte e os embalávamos em direção ao rio para soltá-los o mais próximo possível da água. Ao brado de “Ao braço, firme!”, sem cessar, as equipes do Batalhão movimentavam as peças para montagem. Findou a tarde, veio a noite, rompeu a madrugada e e os trabalhos prosseguiram, ininterruptamente, até às 05h00 da manhã, quando o último pontão e a última vigota foram descarregados.

        Para esta tarefa estabelecemos que cada um de nós operava o guincho por 1 hora e os outros descansavam mas sem dormir. Às 06h00, o Batalhão completou a montagem. Às 06h30, estava prevista a transposição da ponte pelos CCL do 12º R C Mec. Completado nossos trabalhos, tomamos um café e fui me apresentar ao Comandante do Batalhão. Os Oficiais estavam tomando café. Pediram que eu entrasse na barraca. Então o Subcomandante me perguntou qual a tonelagem da nossa Viatura-Socorro. “Em torno de 14 toneladas”, respondi. Comandante e Subcomandante se olharam. “Coronel, posso ir embora”, perguntei ao Comandante. “Ainda não”, foi sua resposta. “O Subcomandante vai te passar todas as recomendações necessárias para tua liberação”, completou.

        As recomendações foram: ser o Socorrão a primeira viatura a transpor a ponte; uma vez alinhada a viatura, não mover mais o volante de direção; iniciado o movimento, manter a viatura em 2ª marcha em 1.000 rpm, não pisar no freio, não trocar marcha; tomar máximo cuidado dada a profundidade do rio.

        Pensei: “Se aguentar as 14 toneladas do Socorro, aguenta os CCLs, é isso!”. Procurei o Pedro e o Abilio e eles já se encontravam do outro lado da ponte. O Comandante do Batalhão então perguntou ao seu pessoal se estava tudo pronto e esticado. A resposta foi afirmativa. “Então vai, Salazar”, me ordenou o Comandante.

        Iniciei o deslocamento sobre a ponte, de olho nos lastros dos pontões. Quando o Socorro passava, a água marcava o terceiro lastro (o bem de cima). Atravessei a ponte com muito cuidado, mas sem maiores dificuldades, pois mais uma vez meu amigo lá do Alto, estava me tranquilizando e orientando.

        Nem tudo foi sucesso nessa atividade. Tristemente, um militar do Batalhão, da equipe encarregada de esticar os cabos e ancoras, caiu do bote e não foi mais encontrado. O rio naquela parte tinha bastante profundidade e a correnteza era forte.

Remoção um CCL M3 A1 do 12º R C Mec

        A última participação digna de nota da Viatura-Socorro da 2ª Cia Me Mnt foi a remoção de um CCL M3A1 de uma vala funda em que caíra quando em deslocamento noturno. Removido, o blindado foi rebocado e embarcado em vagão de trem com destino ao Pq R Mnt/3, em Santa Maria.

        O CCL ficara quase que totalmente submerso na vala, restando fora da água apenas a torre. Para o cumprimento da missão o “Socorrão” contou com o auxílio do “Socorrinho” sob a chefia do Sgt Aguiar. Além disso, equipe de mecânicos chefiada pelo Sgt Juvenil também foi acionada.

        O importante era movimentar o blindado sem causar-lhe danos adicionais. Cheio de água o carro de combate apresentava peso superior às suas 13 toneladas originais

        Tivemos que realizar uma manobra de força usando 3 cardenais do Socorrão. Ancoramos o Socorrão com todas as suas sapatas e o anteparamos em outro CCL dirigido pelo Sgt Celso. Em manobra demorada, mas bem-sucedida removemos o CCL da vala. Aguardamos o escoamento da água acumulada em seu interior para inspecioná-lo. Feito isso, atrelamos a tesoura e rebocamos o blindado até a estação ferroviária e o posicionamos em um vagão com destino ao Pq R Mnt/3, em Santa Maria.

3. CONCLUSÃO

        Penso, neste breve relato, ter dado uma ideia da importância dos trabalhos realizados pela equipe encarregada da Viatura-Socorro Ward La France, 14 ton, 6x6, da 2ª Cia Me Mnt, durante a Operação Poncho Verde. Com certeza escaparam-me detalhes, pois a distância dos fatos no tempo enfraqueceu um pouco minha memória.

GLOSSÁRIO

        - Viatura-Socorro (Socorrão): Viatura EB22-415, 6X6, 14 Ton, Ward La France.
        - Viatura-Socorro (Socorrinho): Viatura Ford F-600, 4x2, EB22-1550, 1 1/2 toneladas.
        - 6ª DE: 6ª Divisão de Exército, Quartel-General em Porto Alegre-RS.
        - 6ªCia Int: 6ª Companhia de Intendência, Unidade extinta em 31/12/1972, à época sediada no bairro Partenon, Porto Alegre-RS
        - 2ªCia Me Mnt : 2ª Companhia Média de Manutenção, Unidade extinta em 31/12/1972, à época sediada no bairro Serraria, Porto Alegre-RS
        - 18ºBI Mtz : 18º Batalhão de Infantaria Motorizado, à época sediado em Porto Alegre-RS.
        - Pq R Mnt/3: Parque Regional de Manutenção da 3ª Região Militar, Santa Maria-RS.
        - 6ºBE Cmb: 6º Batalhão de Engenharia de Combate, São Gabriel-RS.
        - 12ºR C Mec: 12º Regimento de Cavalaria Mecanizado, à época sediado em Porto Alegre, no bairro Serraria.
        - 8º B Log: 8º Batalhão Logístico, bairro Partenon, Porto Alegre-RS
        - CCL: Carro de Combate Leve.
        - Operação Poncho Verde: Manobra da 6ªDE realizada no ano de 1972, no Campo de Instrução Barão de São Borja, no município de Rosário do Sul-RS.
        - Rio Santa Maria: rio que corta o Município de Rosário do Sul e o Campo de Instrução Barão de São Borja.         - Ao Braço! Firme!: Comando tradicional da Engenharia de Combate.
        - Pontões e Vigotas : Pontões são barcos alinhados um ao lado do outro em que confeccionam uma ponte móvel .Vigota são trilhos transversais que formam o trajeto a ser percorrido nos pontões;
        - Cardenal: Equipamento da dotação da viatura Socorro 14 ton, que consistia de 1 roldana com suporte e gancho.